Flávio França Júnior, do Detagro, é um dos mais respeitados analistas do agronegócio brasileiro Foto: Arquivo
Em entrevista na segunda-feira, 8, o especialista em mercado Flávio França Júnior, da consultoria Datagro, comentou que a safra brasileira de soja deste ano, bastante prejudicada pelo clima, ainda não tem uma definição quanto ao seu tamanho. “Estamos agora no olho do furacão, as coisas estão acontecendo, as chuvas que estão ocorrendo no Mato Grosso e Goiás devem amenizar a situação, mas elas não resolvem as perdas, apenas estabilizam as cotações”, disse, lembrando que há uma certa confusão no mercado, o que é normal neste momento, para tentar mapear o real volume da produção.
A avaliação de França Júnior foi feita no programa CBN Rural, da Rádio CBN de Maringá, comandado pelo jornalista Rogério Recco. Ele destacou que o mercado internacional, diante das notícias de chuvas no Centro-Oeste do país, vem respondendo com quedas nos preços da soja nos últimos dias. “Na minha visão esse preço volta a subir, é hora de o mercado interpretar que a safra brasileira é modesta. Nos colhemos no ano passado quase 160 milhões de toneladas, a nossa estimativa atual, feita em dezembro, é de 152 milhões de toneladas, e esse número na minha visão é teto”, citou.
Segundo ele, nas próximas semanas, esses números devem ser menores. “Tenho a impressão que a safra brasileira deve ficar em torno de 150 milhões de toneladas ou até abaixo disso. Por ora, o mercado internacional está interpretando um tamanho de safra fora da realidade”, comentou Flávio.
“Eu ainda tenho a impressão que a colheita acontecerá com preços melhores. Apesar do recente recuo de Chicago, o mercado pode voltar e o produtor precisa ter cautela, aguardar um pouquinho, para vermos o tamanho efetivo da safra e o mercado internacional responder e chegar isso no mercado interno”, acrescentou.
O especialista explicou que dois fatores explicam o momento de fragilidade nos preços internacionais da soja. O primeiro é que quando se fala em mundo, o mercado internacional olha muito a América do Sul como um todo, não só o Brasil. E quando se olha a América do Sul, a expectativa da safra deste ano é maior que a do ano passado. Há uma recuperação forte da Argentina, que vem de uma safra desastrosa no ano passado, de pouco mais de 20 milhões de toneladas, e este ano ela vem com uma safra provavelmente ao redor de 50 milhões de toneladas.
Então, a Argentina traz para a safra, 30 milhões de toneladas a mais, enquanto no Brasil, a estimativa de perda, por enquanto, é de 10 milhões de toneladas ou um pouco mais. No saldo sul-americano, ainda tem mais produto. Portanto, parte da queda tem a ver com a leitura global da região, que é superavitária de produção em relação ao ano passado.
Há, ainda, o ingrediente adicional de que o clima melhorou na região Central do país, ainda que no Paraná tenha havido uma piora, devido ao forte calor e ao fato de que as chuvas escassearam. Algumas regiões do Paraná, que vinham bem, apresentam perda de potencial, caso do oeste e noroeste.
“Na região Central, que é onde estavam os problemas, as chuvas voltaram. Então, na visão do mercado internacional, a safra brasileira está melhorando, o que não é uma verdade, pois a gente está só amenizando, não pode dizer que a safra vai ser mais do que a gente já está vendo de perda”, disse, resumindo: a queda das cotações, no momento, se deve ao tamanho da safra sul-americana e à visão das chuvas no Centro-Oeste.
Quanto às preocupações com a economia chinesa, que também poderia trazer reflexos no mercado internacional de grãos, Flávio explicou que, a rigor, o ritmo de crescimento do país não deve mudar o contexto do consumo de alimentos, pelo contrário, os chineses compraram muito milho e soja do Brasil em 2023, e devem voltar a comprar grandes volumes em 2024. O detalhe é que, como o mercado é dinâmico, a Argentina vai brigar para conseguir um pedaço do mercado, vai ter mais milho argentino também. “Não me parece que teremos mudanças significativas no número de consumo de soja e milho pela China em 2024”.
Para o especialista de mercado, “é importante que o produtor se mantenha ligado o tempo todo, pois as coisas são muito rápidas e temos pela frente um ano muito desafiador em termos de produção, uma safra menor, com perdas de produtividade”. Na sua visão, o que o produtor precisa: acompanhar essa questão do mercado internacional que hoje está em queda, vislumbrando a possibilidade de alguma melhora no meio do caminho, assim que se enxergar melhor a realidade da safra brasileira. Por outro lado, há um viés de cambio um pouco mais alto em 2024 e qualquer puxada mais forte o produtor deve aproveitar as oportunidades, fazer uma boa média de preços, o que é sempre uma boa sugestão.
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