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Na era do baixo carbono, o agro pode ser a porta segura de entrada do Brasil para o mundo desenvolvido e sustentável, escreve Xico Graziano
O Brasil bateu novo recorde de exportações em 2023: US$ 340 bilhões. O agro puxou esse bom desempenho da balança comercial, com recorde de US$ 167 bilhões, representando 49,1% das vendas externas do país.
Listo abaixo 10 destaques do comércio exterior do agro brasileiro.
Expertise da indústria: O crescimento das vendas externas originadas no agro ocorreu em um cenário de queda de preços internacionais, indicando uma dinâmica firme, que atesta a força competitiva da produção nacional. As empresas brasileiras aprenderam a vender no mercado internacional, garantindo a qualidade da oferta. O gráfico abaixo, elaborado pelo Insper Agro Global, mostra essa tendência:

Milho: O milho foi a melhor surpresa do comércio internacional em 2023, levando o Brasil à posição de maior exportador mundial do cereal, com 55 milhões de toneladas, cerca de 27% do mercado. O feito era inimaginável há poucos anos, face à elevada predominância da safra norte-americana desse grão.
O gráfico abaixo mostra que o valor das exportações de milho superou o das de café, e sua CAGR (taxa de crescimento anual composta, na sigla em inglês) é a mais elevada dentre todos os gêneros exportados.

Papel e celulose: Os produtos oriundos das florestas plantadas (celulose, papel e madeiras) confirmaram sua excelente inserção no mercado internacional, rivalizando com o Canadá e os EUA. A vantagem da silvicultura nacional se baseia no manejo da tropicalidade (calor, umidade e luminosidade), que faz as árvores crescerem mais rápido. Pouca gente considera, mas papel e celulose também pertencem ao agro.
Mercado asiático: A China, incluindo Hong Kong, continua sendo o maior destino (38%) das vendas externas do agro nacional. Os demais países asiáticos, entretanto, cresceram suas compras para 16% do total. Ou seja, o distante mercado asiático, em geral, é o grande responsável (54%) pelas vendas externas do agro brasileiro.
Queda no preço do trigo: Nas importações, surpreendeu a queda de 37% no valor das compras externas de trigo, por causa principalmente da queda de preços. A frustração da safra colhida em outubro de 2023, porém, poderá elevar as importações em 2024, mantendo a forte dependência externa. Autossuficiência de trigo continua sendo o maior desafio do agro nacional.
Recorde em São Paulo: No Estado, as exportações do agro bateram recorde em 2023 e atingiram 40% das vendas externas. Açúcar e etanol, soja, carnes, celulose e papel e suco de laranja são os 5 produtos que puxam a balança comercial paulista. O agro é compatível com a indústria.
Aquicultura: O salmão lidera as importações paulistas de alimentos, com US$ 380 milhões em 2023, ultrapassando o trigo (US$ 300 milhões). O resultado é surpreendente, atestando a força da aquicultura mundial.
Importações enfraquecem: O pujante agro brasileiro mostra sua maior fraqueza nas importações de insumos, que atingiram 57% das compras externas, somando fertilizantes (32%), medicamentos de saúde animal (12%) e pesticidas (10%). Internalizar a produção de insumos agropecuários exige um plano estratégico de desenvolvimento nacional.
Pecuária: Os produtos animais (carnes bovina, avícola, suína e peixes, mais ovos, couros, peles e gorduras) representam, depois do complexo soja, o 2º grupo de alimentos mais exportado pelo país, com 16% do valor total. A liderança do Brasil no mercado mundial de carnes comprova a crescente competência da pecuária brasileira.
Europa desce: A União Europeia e o Reino Unido perderam espaço, respondendo por 14% das vendas externas do agro brasileiro. Boa parte vem das compras de café, suco de laranja e celulose, produtos pouco sujeitos às restrições ambientais colocadas nesse exigente mercado.
Para finalizar, é necessário colocar uma questão essencial: quem critica o crescimento das exportações do agro brasileiro não entende nada sobre a dinâmica dos modernos agronegócios, que integram a economia rural com a economia urbana. Segundo o conceito clássico, a maior parte do que vendemos se classifica como commodities. Tais “commodities”, porém, contém elevado valor agregado, por causa do intenso componente tecnológico de sua produção. É um erro brutal, por exemplo, considerar as carnes como “matérias-primas” agrícolas, como se fosse banal obtê-las.
Em outras palavras, o agro brasileiro vem se mostrando nosso maior diferencial competitivo a nível mundial. Não se trata mais, porém, de uma “economia primária”. Estamos falando de um modelo tecnológico, padrão Embrapa, que anda fazendo da condição tropical sua maior vantagem comparativa. Na era do baixo carbono, tal diferencial poderá vir a ser efetivado como a porta segura de entrada do Brasil para o mundo desenvolvido e sustentável.
Alguém vislumbra alguma possibilidade maior que essa?
Xico Graziano, 71 anos, é engenheiro agrônomo e doutor em administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV. O articulista escreve para o Poder360 semanalmente, às terças-feiras.

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