O agronegócio ainda não se recuperou dos prejuízos decorrentes da instabilidade do tempo no ano passado, mas já se preocupa com outro fenômeno em 2024: o La Niña, que deve ocorrer no segundo semestre do ano. Especialistas alertam para a possibilidade de um período de estiagem mais prolongado, o que pode afetar diretamente o agronegócio e pecuária de Goiás.
De acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO), O La Niña é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial. O fenômeno tende a resultar em padrões climáticos mais secos em algumas regiões do Brasil, incluindo Goiás, com diminuição das chuvas e períodos prolongados de seca.
“O La Niña faz com que as chuvas aqui no Brasil Central comecem um pouquinho mais tarde. Este ano, o período de seca começa em maio e possivelmente a chuva só retorna com força em novembro. Podemos ter seis meses de estiagem. E 180 dias de estiagem é muito tempo, porque nós já estamos entrando esse ano com um déficit hídrico, causado pelo El Niño” explica André Amorim, gerente do CIMEHGO.
Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), a produção de grãos, como soja e milho, depende significativamente das condições climáticas ideais, especialmente durante os períodos de plantio e colheita. A escassez de chuvas pode prejudicar o desenvolvimento das plantas, reduzindo a produtividade e a qualidade dos grãos.
Na pecuária, a escassez de chuvas também impacta diretamente a disponibilidade de pastagens para alimentação do gado. A diminuição na qualidade e quantidade de pastagem pode resultar em problemas de nutrição para o rebanho, afetando o peso e a saúde dos animais. Além disso, a redução da oferta de forragem pode levar a um aumento nos custos com alimentação suplementar.
“O produtor terá que se planejar para o enfrentamento da seca. Os agricultores podem considerar a implementação de sistemas de irrigação eficientes, explorando tecnologias modernas que permitam o uso racional da água. No caso da pecuária, é essencial antecipar a escassez de pastagens, investindo em alternativas como silagem e feno, para assegurar o adequado fornecimento de alimento ao rebanho”, explicou Alexandre Santos, coordenador do IFAG.
De acordo com a FAEG, por conta dos fatores climáticos, Goiás não alcançou a produção estimada nesta última safra. A expectativa era uma colheita superior a 17 milhões de toneladas de soja. Mas um novo levantamento apontou uma redução de até 3 milhões de toneladas. Agora, a expectativa é um volume entre 13.8 a 15.2 milhões de toneladas para a safra 2023/24.
Em todo país, a estimativa de produção de grãos também foi reduzida. Em outubro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou uma produção de 317,5 mi toneladas, mas no último levantamento divulgado, o volume foi reavaliado em 306,4 milhões de toneladas de grãos.