Podcast Educação Financeira mostra o relato de como três mães, de realidades diferentes, lidam com o dinheiro, junto com dicas para que as finanças sejam um problema menor. Ruth Almeida, mãe solo dos gêmeos Oliver e Oriel, conta como sua vida financeira mudou com a chegada das crianças
Arquivo Pessoal
“Eu tento guardar dinheiro para emergências, mas parece que com criança a gente só vive em emergência. A gente compra uma fralda, acaba uma pomada. Quando compra uma roupa, já perde uma meia.”
Ruth Almeida, de 26 anos, fez o relato acima ao podcast Educação Financeira desta semana. Ela é mãe solo dos gêmeos Oliver e Oriel, de apenas 1 ano. A gravidez não foi planejada e ela precisa suar para fechar as contas todo mês.
No episódio especial de Dia das Mães, estão reunidos esse e outros relatos dos desafios financeiros da maternidade. A longa lista de consultas médicas, vacinas, roupinhas, chupetas, mamadeiras tem um custo que surpreende até mesmo as mães mais organizadas.
O podcast procurou, então, quais dicas os especialistas em finanças poderiam dar, para que a aflição possa ser menor. Mas, antes das respostas, o g1 mostra o relato de como três mães, de realidades diferentes, lidam com o dinheiro.
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Ruth Almeida, 26, mãe solo, gravidez não planejada
Ruth Almeida é mãe dos gêmeos Oliver e Oriel, de um ano. A gestação dela não foi planejada
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Ruth Almeida é nutricionista e trabalhou no Exército por três anos. Tinha renda estabilizada, benefícios e segurança no emprego. Até que começaram as surpresas.
Em 2021, descobriu uma doença rara: uma paralisia periódica hipocalêmica, que causa fraqueza muscular por perda de potássio. Foi desligada do serviço militar.
Em agosto de 2022, mais uma notícia: uma gravidez não planejada. De gêmeos.
“Minha vida militar era ótima financeiramente. Eu tinha um salário bom, uma condição boa, viajava muito, tinha até dinheiro guardado. Mas, quando os meninos nasceram, eles precisaram ficar na UTI e a reserva de emergência que eu tinha já foi para isso”, diz.
Oliver e Oriel nasceram em fevereiro de 2023. O genitor das crianças não assumiu a criação. Sem emprego e sem ajuda do pai dos meninos, passou a precisar da família para criar os gêmeos.
“Por serem gêmeos, é tudo em dobro. Mesmo para as fraldas, eu achava que 10 pacotes eram muitos, mas não, porque eram cinco para cada um. É difícil ter noção do que eles precisam”, afirma.
Ruth afirma que precisa se apertar para não prejudicar o orçamento da casa. Sempre que pode, aproveita promoções de fralda no supermercado e compra roupa para os meninos em brechós. “Já paguei um real e noventa em uma calça para eles, isso foi ótimo!”, finalizou.
Katia Nunes, 30, gravidez não planejada
Katia Nunes com o filho Breno, o marido Edcarlos e seus dois cachorros
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Katia Nunes é casada e mãe de Breno, de 2 anos e 5 meses. A gestação não foi planejada, e as dívidas bancárias já surgiram para custear o parto e as consultas da criança.
Antes mesmo da gravidez, ela tinha problemas para se organizar. Em 2019, foi demitida do trabalho como assistente comercial. O banco que a empregava alegou baixo rendimento, mas Katia descobriu que era uma depressão que começava a se manifestar.
Ela não tinha reservas financeiras e o nome do marido estava sujo. Demorou dois anos para voltar ao mercado de trabalho. E, duas semanas depois do reinício, descobriu que estava grávida.
“Eu tinha convênio, mas a minha vontade era ter um parto normal. Em plantão de hospital, normalmente eles levam as mães direto para a cesárea. Por isso optamos por pagar uma médica particular”, relata.
Obstetra e auxiliar lhe custaram R$ 9,5 mil. Precisaram de um empréstimo consignado. O enxoval do bebê foi feito com ajuda de amigos e familiares, que doaram roupas e móveis.
“Na minha cabeça, eu tinha que quando eu engravidasse eu queria fazer tudo pelo meu filho. Fazer o quartinho, comprar o berço, me mudar para uma casa maior. Mas eu não tinha condição financeira para isso”, conta.
De lá para cá, a situação melhorou: Kátia está trabalhando na área operacional em um escritório de investimentos. O dinheiro não está sobrando, mas há um horizonte de estruturar as contas e limpar o nome do marido.
Mas ainda há receio em ter um segundo filho. “Quando eu casei com o meu marido, a gente pensava em ter dois, três filhos e ainda adotar um. Agora, nós percebemos que pode ser muito complicado financeiramente”.
“A sensação é de que a gente vive correndo e trabalhando sempre para pagar apagar incêndio, que são as contas, as dívidas”.
Juliana Benvenuto, 34, gravidez planejada
Juliana Benvenuto, especialista em investimentos e mãe do Gabriel, que nasceu no último dia 5 de maio
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Quando a especialista em investimentos Juliana Benvenuto deu entrevista ao podcast Educação Financeira ela estava grávida de 38 semanas do seu primeiro filho, Gabriel. No dia 5 de maio, ele nasceu.
A situação da família é bem diferente dos relatos anteriores. A gestação de Juliana foi planejada, e ela trabalha há anos no mercado financeiro — o que lhe dá uma boa renda para se preparar para a maternidade.
“O fato de eu vir do mundo financeiro já facilita muito esse processo. Eu acho que é muito importante a gente ter um planejamento financeiro bem estruturado, pois foi o que deixou a minha gravidez tranquila. A gente aproveitou para fazer tudo do nosso jeitinho, montamos o quartinho do jeito que a gente gostaria”, diz.
Juliana afirma que contratou uma consultoria para poder organizar as receitas e os possíveis gastos que ela teria com a chegada do Gabriel. Além disso, conseguiu fazer o enxoval do bebê fora do Brasil.
“Eu e meu marido estávamos muito preparados para esse processo. Se eu pudesse dar uma dica, eu diria que é essencial entender o que é supérfluo e o que é fundamental para comprar para a criança”, relata.
“Nós, como mães, principalmente de primeira viagem, a gente quer comprar tudo. É tudo lindo, Vai botando no carrinho, vai levando tudo, mas fazer uma pesquisa inicial é muito importante, porque assim eu vejo o que é realmente essencial para o meu bebê”, continuou.
Como se preparar para ser mãe
Ao fazer o planejamento para aumentar a família, é preciso mapear a realidade financeira atual da família. O primeiro passo é identificar as receitas e despesas da casa, entender quais gastos podem ser eliminados e se há sobras. Em outras palavras: montar um orçamento.
O início é mais trabalhoso, pois é preciso destrinchar gastos como:
Aluguel ou financiamentos imobiliários;
Contas básicas, como água, luz e gás;
Supermercado;
Contas correntes e cartões de crédito;
Lazer e supérfluos.
Com esse mapa será possível entender se os valores recebidos — do salário e de outras fontes de renda, se houver mais que uma — se encaixam na realidade de uma família maior.
“Estimamos, no planejamento financeiro pessoal, que entre 20% e 35% da renda familiar deve ser destinada aos gastos com as crianças, independentemente se for uma, duas ou três crianças”, afirma a planejadora financeira Carol Stange.
Esse percentual representa uma condição ideal, e que não é a realidade de boa parte da população brasileira. Por isso, é ainda mais importante ter um bom mapa das finanças pessoais, para saber quanto desse orçamento ficará comprometido ao longo do tempo.
Carol comenta que a maternidade desperta nas novas mães uma vontade imensa de dar “tudo de bom e do melhor para o filho”, mas é preciso consciência sobre o potencial de consumo da família para que não se perca o controle.
“Pesquisas indicam que ter um filho na classe C custa entre R$ 300 mil a R$ 400 mil ao longo de 18 anos. Na classe B, em torno de R$ 700 mil por filho. E na classe A, pode custar mais de R$ 1 milhão”, informa Stange.
Em casos como o da planejadora financeira Juliana Benvenuto, em que o orçamento familiar permite, é possível até passar a fazer movimentos para a vida financeira da criança. Uma ótima prática é fazer a construção de uma reserva financeira sólida e até investimentos de longo prazo para custear a educação, por exemplo. (saiba mais abaixo)
Gravidez não planejada
Quando um filho não está nos planos, a “missão financeira” é ainda mais urgente. É necessário entender imediatamente como estão as fontes de renda da futura mãe, mapear os custos e estabelecer prioridades.
“Uma coisa é faltar dinheiro para comprar um produto supérfluo, outra coisa é faltar dinheiro para pagar aluguel, escola ou uma alimentação de qualidade para o filho”, diz Carol Stange.
No cenário mais complicado, é importante verificar se há uma rede de apoio de confiança. É o que mostra o relato de Ruth Almeida, que pode contar com os pais para ajudar no sustento dos gêmeos enquanto ela busca uma recolocação no mercado.
O alívio em casos como esse só aparece quando há possibilidade de negociar o salário ou buscar renda extra com novos trabalhos.
Educa+ e outros Investimentos
Quando tudo dá certo, é possível até pensar no conforto financeiro dos filhos. E o protocolo é o mesmo que para montar uma carteira pessoal: compor uma reserva de emergência e, depois, pensar em objetivos futuros.
Uma particularidade da escolha de investimentos para os filhos é o prazo mais longo. Quando se pensa em 15 ou 20 anos, é possível colocar parte desse dinheiro em títulos mais longos, com rentabilidades (e riscos) maiores.
Juliana Benvenuto, planejadora financeira e mãe do Gabriel, recomenda que as mães comecem com investimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), já que os valores têm baixo risco de oscilação.
“No longo prazo, quando o filho tiver mais de 18 anos, vão aparecer outros gastos relevantes, como faculdade. É bom trabalhar com investimentos mais conservadores, mas também já dá para pensar em renda variável e investimentos internacionais”, diz.
“A própria previdência privada pode fazer muito sentido em um planejamento para os filhos e seguro de vida também é outra parte importante do planejamento financeiro como um todo”, acrescenta.
Carol Stange lembra de outro ativo importante, e que surgiu há pouco tempo: o Tesouro Educa+. Esse título do Tesouro Direto, desenvolvido em parceria com a B3, proporciona que os pais façam aportes ao longo dos anos para que o dinheiro volte para ajudar no pagamento de parcelas de um curso ou faculdade.
Um exemplo: ao comprar o Educa+ com vencimento em 2042, os pais têm 18 anos para aportar os valores. Pelos títulos disponíveis hoje, o dinheiro investido rende IPCA + 6,16% ao ano. Quando chegar em 2042, o Tesouro devolve o valor corrigido mensalmente para o pagamento das prestações.
“Quando essa criança fizer 18 anos, vai ter a opção de consumir esse montante acumulado em pequenas parcelas que vão durar durante o período de estudo”, afirma.
* Estagiária sob supervisão de Raphael Martins
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