A agricultura biodinâmica completa 100 anos em 2024. Este sistema centenário de produção agrícola trata as propriedades rurais como organismos vivos, conectados ao sistema solar. A agricultura biodinâmica orienta-se pelas fases da lua e utiliza uma solução como espécie de adubos naturais produzidos com esterco para serem submetidos às influências da terra. Criada pelo filósofo e educador alemão Rudolf Steiner em 1924, essa prática respeita os ciclos naturais da terra e promove a integração entre os animais e a vegetação. No Espírito Santo, a Fazenda Camocim, em Domingos Martins, se destaca nesse modelo de produção para o cultivo de café arábica, o que tem garantido certificações internacionais inéditas para o estado, como o selo de agricultura orgânica regenerativa da Regenerative Organic Certified (ROC).
Uma característica que diferencia a agricultura biodinâmica das outras vertentes de agricultura sustentável é a utilização do Calendário Astronômico Agrícola, que define as melhores datas e horários para o plantio e a colheita dos alimentos.
A agricultura biodinâmica adota práticas distintas do cultivo convencional. Um dos pontos que chama a atenção é a preparação de soluções à base de esterco para melhorar a resistência das plantas e o condicionamento do solo, substituindo produtos químicos.
“A agricultura biodinâmica pode melhorar a resistência das plantas por meio da revitalização do solo e dos microrganismos presentes, atuando de forma natural sem o uso de químicos. Essa prática, associada à agricultura orgânica, não prejudica o meio ambiente nem os trabalhadores. Ela melhora a capacidade do solo, permitindo que os microrganismos se multipliquem, o que traz mais resiliência para o cultivo do café. Além disso, a agricultura biodinâmica utiliza um calendário astronômico que considera não apenas o ciclo lunar, mas também os movimentos de todos os planetas da Via Láctea”, afirma Bruna Caon, bióloga da Fazenda Camocim.
Para a produção de café biodinâmico, a Fazenda Camocim utiliza conhecimentos de astronomia, realizando cultivos e plantios de acordo com as fases da lua e dos planetas. Além disso, emprega a homeopatia para proteger e fortalecer as plantas e o meio ambiente.
“A homeopatia pode ser aplicada no solo e nas plantas. Na agricultura biodinâmica, utilizamos plantas-chave como dente-de-leão, camomila, carvalho, ortiga e mil-folhas. Cada uma possui princípios ativos importantes para diferentes fases do cultivo, atuando de forma preventiva contra possíveis ataques”, explica Bruna Caon.
Localizada em Pedra Azul, Domingos Martins, a Fazenda Camocim possui uma área de 300 hectares a 1.300 metros de altitude, com grãos selecionados manualmente. A produção de cafés especiais orgânicos começou nos anos 1990, por iniciativa do empresário Olivar Araújo, pioneiro na produção de cafés orgânicos na região.
Sob a liderança de seu neto Henrique Sloper, a produção evoluiu para cafés especiais biodinâmicos. A fazenda tem produzido cafés biodinâmicos de qualidade há mais de duas décadas e, em 2017, ganhou o prêmio internacional da indústria de café, o Cup of Excellence.
“A biodinâmica é uma técnica de recuperação do solo. Na propriedade, utilizamos homeopatias aplicadas nas plantas. A biodinâmica emprega diferentes homeopatias e segue um calendário agrícola que considera os ciclos do sol, da lua, dos planetas e do zodíaco. Essa abordagem, que remonta aos métodos dos incas e maias, respeita os ciclos naturais e visa revitalizar o solo. Um solo saudável produz alimentos de qualidade superior, que possuem melhor sabor, aroma e menor oxidação, aumentando sua durabilidade mesmo sem refrigeração. É uma técnica regenerativa”, destaca Henrique Sloper.
Recentemente, a Fazenda Camocim conquistou um reconhecimento inédito no Brasil: tornou-se a primeira empresa brasileira de café a obter a certificação internacional Regenerative Organic Certified (ROC) em agricultura orgânica regenerativa. Este selo foi possível graças às práticas sustentáveis adotadas na propriedade, incluindo a regeneração do solo, a proteção dos recursos hídricos e a valorização do bem-estar animal.
A Fazenda Camocim adota uma colheita seletiva, com um foco na qualidade do café. O empresário Henrique Sloper destaca que o principal objetivo da fazenda é produzir um café de excelência. “Embora a produtividade seja importante, a qualidade é primordial, e a colheita seletiva nos proporciona isso. Usamos o pássaro jacu como um alarme de colheita; quando ele começa a comer, sabemos que o café está maduro. Além disso, utilizamos tecnologia para medir o brix do café e garantir que está no momento certo de colher”, explica Sloper.
Na propriedade, também há uma estrutura de beneficiamento do café, onde os grãos são separados após a colheita. Nesse processo, os grãos que, por algum motivo, não amadureceram corretamente são separados dos grãos descascados e dos naturais.
A Fazenda Camocim alia a preservação do meio ambiente à conservação do pássaro jacu através do Instituto Ibio, uma instituição criada para preservar e aumentar as reservas de Mata Atlântica. O objetivo é entender melhor a ave, que só existe na Mata Atlântica Brasileira e está em extinção. Na propriedade, a ave desempenha um papel determinante na produção do Jacu Bird Coffee, um dos cafés mais caros e exóticos do mundo, cujos grãos são produzidos a partir das fezes do pássaro jacu.
Depois de 21 anos, Espírito Santo supera recorde histórico de exportações de café
Entenda como os produtores rurais podem usar os recursos do Plano Safra para investir no agronegócio
As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do Folha Vitória
Stefany é engenheira agronôma e técnica em agronegócio. Neta de produtores e do interior rural, se tornou produtora de conteúdo sobre agronegócio e palestrante sobre inovação no setor, atuando como consultora de tecnologia e mídia para empresas rurais.
É pesquisadora acadêmica nas áreas de gestão, agronegócio, irrigação, cacauicultura e outros.