Enquanto o agronegócio, responsável por 75% da destruição ambiental no país, recebe do governo federal R$ 364 bilhões, o orçamento destinado para pagar o auxílio de R$ 5,1 mil aos trabalhadores desabrigados no Rio Grande do Sul é no total de R$ 460 milhões. Esse valor não chega nem há 1% do repasse bilionário feito aos grandes latifundiários.
Guilherme Garcia
A catástrofe climática que atingiu o estado do Rio Grande do Sul já deixou mais de 160 mortos e mais de 500 mil desalojados em vários municípios do estado. Esse desastre, fruto das mudanças climáticas, têm responsáveis diretos por toda essa destruição. A negligência e o negacionismo do governo de Eduardo Leite e da prefeitura de Sebastião Melo precarizaram os sistemas de proteção contra as enchentes, não investiram em prevenção, além de favorecerem os interesses de lucros dos capitalistas permitindo a destruição do meio ambiente. Mas em segundo lugar, os próprios capitalistas são responsáveis por essa devastação, e o principal setor é justamente o agronegócio.
No Brasil, o setor do agronegócio e da agropecuária é responsável por cerca de 75% da emissão de gases de efeito estufa no país, que aquecem a temperatura da atmosfera, que aumentam o volume de chuvas no sul e criaram o maio mais chuvoso da história do RS. Essa emissão se dá principalmente pelas queimadas e o desmatamento, e também pela liberação de gás metano pelos animais da pecuária – o Brasil é um dos maiores emissores desse gás.
E mesmo tendo enorme responsabilidade por desastres climáticos, o setor do agronegócio acaba sendo o mais beneficiado no país.O governo Lula destinou R$364,22 bilhões para apoiar os grandes e médios latifundiários da agropecuária de todo o país no maior Plano Safra da história, ocorrido em 2023/24. E ainda promete um plano maior para 2024/2025. Não somente o governo federal tem dado regalias para o setor que quer passar a “boiada” no meio ambiente, mas o governo Leite também vem fazendo investimentos pesados. Um Plano Safra próprio do Banrisul também bateu recorde de investimento no plano 2023/24, commais de R$ 11 bilhões para o setor. Os créditos para produtores rurais e empresários afetados pelas enchentes prometidos pelo governo federal também são bilionários.
Já para os trabalhadores a situação é bem diferente. O governo federal aprovou um auxílio de R$ 5,1 mil para cada família atingida pela enchente. Se fomos calcular o valor total que será destinado as pessoas atingidas, que são 47 mil que já tem acesso, mais 91 mil que ainda receberam, o total será R$ 460 milhões. Esse valor não chega nem há 1% do do que esse repasse bilionários é entregue aos grandes latifundiários e empresários da agropecuária. Enquanto isso, há famílias que perderam tudo dentro da casa, outras que perderam familiares, outras que perderam casas e bens. Dezenas de milhares estão sem trabalhar e dormindo em abrigos, outros milhares foram demitidos. Um valor de R$ 5,1 mil é muito pouco diante do tamanho da tragédia.
Os dados falam por si. O investimento que o agronegócio recebe é um absurdo enquanto centenas de milhares sofrem por todo esse desastre. Essa diferença escancara as prioridades do governo, que prioriza os grandes capitalistas em detrimento da maioria pobre. Além disso, existem vários outros benefícios e isenções, como a Lei Kandir que é a isenção do pagamento de ICMS sobre as exportações de produtos primários e semielaborados ou serviços. Com todas essas regalias, esses empresários lucram horrores em cima das nossas costas. E ainda querem mais. Esse setor, da Soja e do Boi, querem ampliar mais seus latifúndios para produzir e lucrar mais ainda, promovendo desmatamento, perseguição a terras indígenas, entre tantas outras medidas criminosas que realizam em nosso país com o livre arbítrio dos governos.
É um absurdo que o governo Lula-Alckmin esteja promovendo apenas um auxílio de R$ 5,1 mil para os desabrigados, que mesmo sendo um valor que ajuda, ainda é insuficiente para cada família que perdeu suas casas e todos os seus pertences, enquanto dá toda essa regalia aos grandes agropecuários que são a base social do bolsonarismo e da extrema direita. Enquanto a “mamata” segue para os latifundiários, para a maior parte da população trabalhadora gaúcha, o Estado do Rio Grande do Sul está promovendo umplano de reconstrução que será liderado por neoliberais e privatistas que irão utilizar dessa situação para servir aos interesses de lucro dos empresários. Tudo isso com apoio do PT.
Frente a isso, é necessário se mobilizar e lutar contra esse setor reacionário que quer seguir destruindo o meio ambiente. É preciso lutar para impor um programa que faça com que sejam os capitalistas que paguem pela crise e que responsabilize e cobre os verdadeiros culpados pela tragédia no RS. Que coloque os recursos financeiros e doações nas mãos dos que estão na linha de frente da solidariedade aos atingidos, nos abrigos, nos centros de distribuição e nas cozinhas comunitárias, com impostos progressivos, expropriações de lucros e fim de isenções aos grandes patrões, a reversão das privatizações, pela ocupação dos imóveis desocupados para os atingidos, e uma reforma urbana radical para prevenir novas catástrofes. Também frente a destruição da natureza pelo agronegócio, é importante levantar um programa que coloque o uso da terra de maneira racional para a produção de comida para a população e não para o lucro dos capitalistas. Os latifúndios e os grandes monopólios de alimentos precisam ser expropriados e estar sob controle de trabalhadores e pequenos camponeses. Somente com a auto-organização poderemos impor esse programa diante dessa realidade.
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