Por José Florentino — São Paulo
A gestora Suno e a fintech Bigtrade anunciaram a criação de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) para financiar produtores de café, principalmente em operações de custeio. A meta é captar cerca de R$ 50 milhões com o CAFE11 até o meio de 2024. O retorno sobre investimento das cotas sêniores CAFE11 será de CDI+4%, conforme regulamento do fundo.
O lançamento do fundo é parte da estratégia da Suno para crescer no agronegócio por meio de parcerias com outras empresas, afirmou Octaciano Neto, diretor de agronegócio da Suno, à reportagem. Hoje, o agro representa um terço do braço de assessoria de investimentos da gestora, que tem o SNAG11, um Fiagro com R$ 504 milhões e cerca de 78 mil cotistas.
Segundo ele, o projeto unirá a experiência com investidores de varejo da gestora e a tecnologia desenvolvida pela Bigtrade para calcular o perfil de risco dos cafeicultores. “Os recursos vão ser emprestados apenas para produtores que passarão pela fintech. Inicialmente, são produtores que fizeram vendas futuras para o Grupo Montesanto Tavares. No futuro, podemos ter parcerias com outras tradings, mas quem vai definir isso será a Bigtrade”, afirma.
A relação da sociedade com o agronegócio está mudando, na visão do executivo, e isso começa a ter efeitos também no mundo dos negócios. “Se o setor é 30% da economia, também deveria ser 30% da carteira do brasileiro. Mas, mesmo com todas as vantagens competitivas, as pessoas têm 3% ou 4% de agro na carteira”, defende.
Luiz Braga, CEO da Bigtrade, afirma que o CAFE11 foi desenhado para democratizar o investimento na cafeicultura, com cotas sendo negociadas por até R$ 100. Para oferecer segurança ao investidor de varejo, as empresas decidiram entrar com 40% de subordinação — a ideia é que, à medida que os investidores ganhem confiança, a empresa possa reduzir esse número.
No ano passado, a Bigtrade financiou R$ 12 milhões em operações de entrega de café para o Grupo Montesanto Tavares, segundo Braga. As taxas de inadimplência estão previstas para ficar abaixo de 1%, o que torna o segmento seguro para o investidor, diz.
Na outra ponta, os executivos afirmam que é preciso apresentar de forma simples aos produtores a novos mecanismos de financiamento. No futuro, os Fiagros deverão ser a principal fonte de financiamento do setor, projeta o diretor de agronegócio da Suno. Segundo ele, esses veículos captaram R$ 20 bilhões em 2023 e “a curva de crescimento é inacreditável”.
A maioria dos recursos dos Fiagros ainda vai para o custeio das atividades agrícolas — no caso do CAFE11, um terço será disponibilizado como recursos livres para capital de giro e 70% para pagamento de insumos. Mais à frente, porém, as empresas veem esses veículos se adaptando também às necessidades de investimento.
“Hoje o produtor recorre ao BNDES ou ao Banco do Brasil para investimentos de longo prazo, ou, se é um produtor de grande porte, emite um CRA (Certificado de Recebível do Agronegócio). No futuro poderão atender investimentos em algumas linhas”, afirma Braga.
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