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Por Décio Luiz Gazzoni

Para o ano de 2023, estima-se o valor do PIB do agronegócio superando R$ 2,62 trilhão, equivalendo um quarto do PIB do Brasil. Trata-se da soma, em valores monetários, de todos os produtos e serviços gerados pela agricultura brasileira. O PIB do agronegócio é medido pela ótica do Valor Adicionado total do setor na economia e avaliado a preços de mercado, considerando os impostos indiretos menos os subsídios. Além disso, é dividido em quatro segmentos: insumos, primários (agropecuária), agroindústria (de bases agrícola e pecuária) e agrosserviços.
O Brasil dispõe de um apreciável mercado consumidor doméstico e é um dos grandes protagonistas do mercado internacional de produtos agrícolas, exportando para mais de 200 países. Dos 10 principais produtos exportados pelo Brasil 8 são agropecuários, com valor superior a US$ 120 bilhões. É essa exportação que permite que alimentos brasileiros cheguem às mesas de mais de 800 milhões de cidadãos do mundo.
Depende de nós
Para elaborar um modelo matemático que permitisse vislumbrar a evolução do PIB do agronegócio, nas próximas décadas, elencamos alguns requisitos. Em dois deles pouco podemos interferir: 1) Demanda firme; 2) Bons preços e câmbio favorável. A demanda é função de fatores demográficos e econômicos em escala global, mormente do crescimento da população mundial e do incremento da renda per capita. Preço é função direta da relação oferta/demanda e do custo de produção, sendo o câmbio influenciado por uma série de eventos, prioritariamente, porém não exclusivamente, de domínio econômico.
Porém, em outros 10 quesitos, o Brasil pode operar para que lhe sejam favoráveis: 1) Oferta sólida; 2) Produzir competitivamente; 3) Atender exigências dos clientes; 4) Utilizar a tecnologia mais adequada; 5) Produzir de forma sustentável; 6) Agregar valor; 7) Eliminar o custo Brasil; 8) Diversificar produtos e mercados; 9) Executar uma diplomacia comercial agressiva; e 10) Investir fortemente em marketing e comunicação.
Estes quesitos são relativamente óbvios e autoexplicativos. Sem uma demanda firme e uma tendência clara de longo prazo, os sinais que chegam às cadeias produtivas são tênues. E o mercado precisa entender o sinal que vem do lado da oferta, demonstrando que pode produzir o adicional requerido, de forma competitiva e sustentável. O que muda nos anos vindouros é a exigência dos consumidores por sustentabilidade, no que tange à segurança e inocuidade dos alimentos. Uma derivada é a exigência de sustentabilidade ambiental e social, pois pertencem a um mesmo conjunto reivindicatório, em especial baixas emissões de gases de efeito estufa e atendimento de cláusulas sociais. Estas exigências passarão a compor as certificações privadas dos importadores e estarão na agenda das legislações nacionais e das negociações internacionais. 
Aumentado a oferta
O Brasil representa, no momento, um caso único de capacidade de aumentar a oferta de produtos agrícolas: pode expandir a área ou incrementar a produtividade, com baixo impacto ambiental. Entrementes, é sempre necessário estar atento para as quebras de paradigma tecnológico, que podem eliminar determinadas vantagens comparativas. Por exemplo, há cerca de cinco anos empresas estão produzindo frutas e hortaliças em ambiente protegido, nos desertos do Oriente Médio e da Austrália, com preços competitivos, deslocando fornecedores tradicionais.
Por ordem de prioridade, o Brasil deveria aumentar sua oferta investindo em: 1) Incremento da produtividade de forma sustentável e com ganhos de rentabilidade, seguindo rigorosamente as recomendações técnicas e valendo-se de tecnologias que permitem ganhos de produtividade e que ainda são pouco exploradas, como irrigação ou polinização; 2) Intensificação do uso do solo, que pode ser obtido pela sequência de colheitas em um mesmo ciclo agrícola (safra, safrinhas) e, em particular, com sistemas ILPF, integrando lavouras, pecuária e florestas; 3) Se necessário expandir a área, observar a sequência: a) recuperação de áreas degradas; b) ocupação agrícola de áreas liberadas de pastagens; c) abertura de novas áreas.
Lembrando sempre da máxima milenar: “À mulher de César não basta ser honesta, precisa parecer honesta”. Tão importante quanto utilizar sistemas de produção sustentáveis, importa a percepção do resto do mundo de que eles são sustentáveis. Cada árvore derrubada necessita de uma explicação e uma justificativa, portanto deve sempre ser a última opção, do ponto de vista de mantermos uma imagem de sustentabilidade perante o mundo.
Quando dobramos?
Traçamos quatro cenários, lastreados em uma série de premissas, e considerando a evolução do mercado doméstico e internacional. O primeiro cenário é manutenção do status quo atual, continuando a proceder como no passado recente. Os cenários pessimista, provável e otimista indicam diferentes graus de apropriação e transformação de vantagens comparativas em competitivas e de eliminação dos gargalos que impedem a expressão do potencial do agronegócio brasileiro (custo Brasil). Todos os pontos citados anteriormente são fundamentais, alguns deles cruciais, como a sustentabilidade, a ampliação do portfólio de exportação (frutas, hortaliças, madeira), a agregação de valor, a diplomacia comercial e um marketing agressivo.
Mantendo-se o ritmo de atividade atual, projetamos que será possível dobrar o PIB do agronegócio em 2044. No cenário pessimista, fazendo um pouco de esforço, podemos duplica-lo em 2039. Mas em um cenário provável, em que o Brasil dinamize suas cadeias produtivas, resolva parte de seus gargalos e potencialize parcela ponderável das suas vantagens comparativas, poderá duplicar pela primeira vez em 2037 e duplicar novamente em 2048. Mas, se nos esforçarmos e fizermos o dever de casa, podemos dobrar o PIB em 2034 e duplica-lo novamente em 2043.
Não vislumbramos outro segmento da economia brasileira que possa ser o grande protagonista nas próximas décadas, além do agronegócio. E está em nossas mãos alavancar o desenvolvimento nacional, lastreado na impulsão do agronegócio. Eis aí um objetivo nacional permanente.
Finalmente, as projeções acima somente podem ser atingidas com a geração e adoção de tecnologia no estado da arte. O que pressupõe investimentos elevados e continuados nas instituições de pesquisa, para dispormos sempre de tecnologia de ponta e sustentável, a baixos custos, que garanta nossa competitividade.
Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica
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