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Martha de Sá, da Vert Capital, lança novo negócio para dar escala a crédito e assistência técnica para pequenos produtores rurais
Ilana Cardial
“O que mais escuto é que o Brasil é um ‘hub’ para as finanças sustentáveis, mas que o dinheiro não chega. Não vamos resolver o problema sozinhos, mas precisamos transformar os projetos de milhões em bilhões.”
Esse foi o diagnóstico que levou Martha de Sá, cofundadora da securitizadora Vert Capital, a lançar uma nova empresa. A Violet, como foi batizada, quer garantir que pequenos produtores agrícolas tenham acesso a crédito e assistência técnica para que façam a transição para práticas de baixo carbono.
O empreendimento herdou a metodologia e a meta de captar US$ 100 milhões até 2025 de um mecanismo desenhado pela Vert junto à gestora de impacto Vox, no ano passado, e já tem Natura e AgroGalaxy como parceiras.
O modelo é bastante semelhante aos “subprimes do bem” discutidos nos eventos de finanças climáticas que aconteceram em torno da reunião ministerial do G20, há duas semanas, em São Paulo.
O presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, foi um dos que mencionaram a ideia da securitização de créditos para dar escala ao financiamento necessário para as atividades de mitigação e adaptação em resposta à urgência climática.
“Os projetos ainda são muito tailor-made, quase artesanais”, afirma Sá, ecoando a fala de Banga. Com padronização e o estabelecimento de critérios robustos, diz ela, seriam removidos obstáculos importantes para os investidores – especialmente os grandes, como fundos de pensão.
Sá afirma que um dos pontos centrais de sua estratégia é o ESMS, sigla em inglês para Sistema de Gestão Ambiental e Social. Trata-se de uma espécie de guia prático das obrigações dos tomadores de crédito (produtores rurais, no caso da Violet).
O documento, ainda em construção, lista itens como garantias de que não houve desmatamento, legal ou não, em determinado período antes do projeto e também a forma e a frequência com que a plataforma fará o monitoramento e a assistência que oferece para seus devedores.
O objetivo principal é simplificar e agilizar a avaliação por parte dos investidores, diminuindo os custos da transação. “Eles vão olhar nosso ESMS e saber em que estão investindo”, afirma a executiva.
Sá traça um paralelo com o que aconteceu com os Certificados de Recebíveis do Agronegócio. (Antes da fundação da Vert, ela e suas sócias participaram da estruturação da primeira oferta pública de um CRA.) “Em 2012, o processo levou dois anos e, agora, se faz em três meses.”
Com a Vox Capital, a Vert trabalhou na criação de um mecanismo de transição para agricultura sustentável ao longo do ano passado. O projeto foi selecionado para o Global Innovation Lab for Climate Finance, financiado pelo governo britânico, no qual foi objeto de análises, testes e definições.
Encerrado esse processo, a Vert seguiu com o mecanismo de agricultura para baixo carbono, enquanto a Vox optou por focar em soluções baseadas na natureza.
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A Vert tem a expertise de reunir e negociar dívidas. Mas emprestar o dinheiro, relacionar-se com os pequenos produtores, dar assistência e monitorar os avanços de cada projeto fogem do escopo da securitizadora.
Foi para isso que surgiu a Violet. A nova empresa vai financiar projetos que foquem em recuperação de áreas degradadas, implementação de sistemas agroflorestais, práticas de pecuária sustentável, bioeconomia e conservação e restauração de biomas.
“Precisamos dar segurança para que o produtor tenha alguma garantia para deixar seu business as usual”, diz Sá, “Se ele falha, ninguém diz ‘tudo bem, pelo menos você tentou’. Ele precisa de alguma segurança para fazer a mudança”.
O período de cada empréstimo vai variar conforme as características daquele projeto e o tempo que tende a levar para que apresente resultado.
Todas as frentes trabalhadas pela Violet permitem a emissão de créditos de carbono, diz Sá. “Mas, na nossa modelagem, a conta para de pé para financiar o projeto mesmo sem esses créditos.”
Por ora, a Violet trabalha junto à Vert no desenvolvimento de projetos pilotos para cada uma de suas áreas de interesse.
No ano passado, a securitizadora fez uma emissão de R$ 12 milhões em CRAs que oferece capital de giro para iniciativas que promovem a conservação e geram renda para famílias na Amazônia. As cooperativas selecionadas são fornecedoras da Natura, que fez um aporte no projeto.
Outro piloto é a emissão de R$ 25 milhões em CRAs junto à AgroGalaxy para financiar projetos de recuperação de áreas degradadas.
A expectativa é que o perfil dos investidores da Violet deve ser amplo, com empresas do agronegócio, fundos de pensão e family offices correndo para atingir suas metas de descarbonização. O programa de proteção cambial para investimentos verdes, anunciado pelo governo há duas semanas, também deve contribuir para a atração de capital estrangeiro, diz Sá.
Além de liderar a Violet, ela vai assumir a presidência do conselho e segue como sócia da Vert Capital. Sua irmã, Victoria de Sá, e Fernanda Mello seguem à frente da securitizadora, que já emitiu mais de R$ 57 bilhões em quase 300 operações.
A nova empresa também terá como consultores Paula Peirão, ex-Vert, que liderou as ações em finanças sustentáveis na securitizadora e agora é coordenadora regional associada para América Latina e Caribe na United Nations Environment Programme Finance Initiative (UNEP FI), e Manoel Lemos, sócio da gestora de capital de risco Redpoint eventures.
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