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segunda, 06 de maio de 2024

Após secas causadas pelo La Niña, chuvas trazidas pelo El Niño podem afetar abastecimento da cadeia láctea, além das safras de milho e soja
As fortes chuvas no Rio Grande do Sul não afetaram apenas a população local, mas seus efeitos também vão repercutir nas gôndolas dos supermercados nos próximos meses por conta do impacto no agronegócio.
Graças ao El Niño e a pontos como o aumento das temperaturas na região do Oceano Atlântico Sul, o estado viu volumes expressivos de chuva em pouco tempo. Por exemplo: as precipitações nas Regiões dos Vales, Planalto e Encosta da Serra superaram 300 mm em uma semana; a cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, registrou 543,4 mm; enquanto a capital, Porto Alegre, teve 258,6 mm de chuva em apenas três dias – um volume equivalente a mais de dois meses de chuva.
“O Rio Grande do Sul, nos últimos três/quatro anos, sofreu demais com a seca. Então, ele é um estado com potencial produtivo muito grande para o arroz, para a soja, para o milho, e nos últimos anos que tivemos o La Niña, ele foi um estado muito prejudicado pela seca”, pontua o analista de commodities Geraldo Isoldi, destacando que a colheita nas últimas duas temporadas tinha sido comprometida pela falta de chuvas.
“Desde o final do ano passado, a gente estava muito animado com o Rio Grande do Sul, porque a gente sairia do La Niña – que tem por característica trazer menos chuvas para o sul – e a gente teria na temporada desse ano o El Niño, aonde eles se livrariam desse problema de seca dos últimos anos (…)”, explica o analista

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Contudo, a chuva que atingiu o Rio Grande do Sul superou todas as expectativas. “Essa chuva atrapalhou desde o início do plantio da soja e do milho porque choveu bastante durante o trabalho de plantio, e aí a chuva tem que cair na hora certa – e se você tem uma chuva muito intensa durante muitos dias na época de plantio, isso é ruim porque as máquinas não conseguem entrar em campo para fazer esse plantio (…) Se você atrasa muito, isso acaba colocando a lavoura em um período de risco climático maior”.
Para o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, as plantações de arroz foram as mais comprometidas pelo excesso de chuvas – vale lembrar que o estado é o principal produtor do grão no país. “O Rio Grande do Sul tem 75% da produção brasileira, e ainda tinha 1,5 milhão de tonelada para colher. A situação está problemática”.
Até o momento, 78% da área cultivada para a safra 2023/2024 foi colhida – pelos cálculos de Cogo, isso equivale a uma área de 709 mil hectares, de um total de 900,2 mil hectares cultivados.
Os 22% restantes representam cerca de 200 mil hectares, equivalente a 1,6 milhão de toneladas e, de acordo com o consultor, não se sabe ao certo quanto dessa área foi perdida nas inundações – a safra gaúcha de arroz estava estimada em 7,4 milhões de toneladas antes das fortes chuvas, mais de 70% da produção nacional projetada em 10,6 milhões de toneladas.
Na visão de Cogo, o risco de déficit no abastecimento de arroz em 2024 não pode ser descartado, o que vai afetar a inflação por conta da importância do item na composição da cesta básica e na alimentação da população.
Segundo maior produtor de soja do país, o Rio Grande do Sul estava em meio à colheita da safra de soja, e os trabalhos chegavam a 70% da área total até o início das inundações.
Embora o desabastecimento não seja uma questão, pelo menos 30% da área cultivada precisava ser colhida – o que seria equivalente a mais de 6 milhões de toneladas, mas ainda não se tem um número exato a respeito.
“Existem relatos no interior de que as lavouras foram submersas. Quem conseguiu colher durante a tempestade se salvou, mas é um valor inexpressivo. Boa parte não está em condição de ser salva”, explica Carlos Cogo.
Em termos percentuais, o volume sob risco corresponde a 5% da safra estimada para o Brasil (cerca de 147 milhões de toneladas), o que deve aumentar a cotação da commodity inclusive no mercado internacional.
“Na soja, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento, o Rio Grande do Sul deveria colher esse ano 21,9 milhões de toneladas, equivalente a quase 15% da produção nacional estimada pela Conab, que no momento é de 145,6 milhões de toneladas”, explica o analista de commodities Geraldo Isoldi, ressaltando que tais números devem ser revisados para baixo na próxima análise da Conab, que será divulgada na próxima semana.
Outro ponto que preocupa é a qualidade da soja colhida, já que o excesso de umidade tende a aumentar a acidez do óleo de soja, comprometendo a qualidade do subproduto (atingindo a indústria alimentícia).
Segundo Cogo, a colheita da safra gaúcha de verão (1ª safra 2023/2024) foi paralisada devido ao excesso de chuvas e alagamentos em várias regiões do Estado, mas as atividades no restante do país “seguem em bom ritmo”: até o último dia 02, 83% da área total cultivada já tinha sido colhida.
A área total plantada com milho na 1ª safra 2023/2024 no RS é de 6,673 milhões de hectares, e e o montante ainda não foi colhido corresponde a cerca de 220 mil hectares e 1,4 milhão de toneladas – ou 6% da primeira safra estimada para o país (23,3 milhões de toneladas). Ainda não é possível estimar com precisão o quanto deste montante está perdido.
Outro setor com problemas é a cadeia frigorífica/láctea, que inclusive pode passar por problemas de desabastecimento em breve.
Produtores já relatam dificuldade em comprar rações, embalagens e caixas (para embalar ovos), e lotes de animais não conseguem ser transportados aos frigoríficos.
“Os frigoríficos estão todos fechados. Falta ração, insumo, transporte… Não tem como reescalonar os abates programados”, ressalta Carlos Cogo. Levar aves e suínos para outras unidades é uma alternativa, mas não resolve completamente os desafios do setor.
O caso é especialmente urgente quando se avalia toda a cadeia de lácteos e derivados. “Além do medo e do receio de ir ao mercado, também tem a compra para auxílio ao mesmo tempo”, explica Cogo. “Tudo isso desacelera o desabastecimento, é um efeito em cadeia”.
Em meio ao caos agrícola, a logística foi igualmente comprometida – e isso não importa apenas no ponto de vista do agro, mas também na forma como a ajuda enviada por outras partes do país chega aos gaúchos.
De acordo com Carlos Cogo, “grande parte das (estradas) vicinais, federais e estaduais tem algum ponto de interdição, e não conseguimos receber muita ajuda”.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), 188 trechos de rodovias enfrentam algum tipo de bloqueio. Do total, 5 trechos de rodovias federais e 28 trechos de rodovias estaduais sofrem bloqueio parcial. São 113 trechos em 61 rodovias com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.
Segundo a Portos RS, Autoridade Portuária dos Portos do Rio Grande do Sul, os portos Rio Grande e Pelotas operam normalmente, mas todas as atividades no porto de Porto Alegre foram suspensas desde o dia 1º de maio.
Além disso, o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, está fechado por tempo indeterminado.
E novas chuvas devem afetar o Rio Grande do Sul: a previsão é de que a região Metropolitana de Porto Alegre, além da Serra Gaúcha e das regiões dos Vales registrem um volume expressivo de precipitação ainda esta semana.
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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