No Rio Grande do Sul, as enchentes atingiram 95% das cidades do estado, com 20% da população total tendo sido afetada de alguma forma. É nesse cenário que o Estado e o agronegócio buscam avançar sobre territórios indígenas para cumprir seus interesses, se aproveitando dos que foram obrigados a sair de suas casas pelas consequências das chuvas. Basta de racismo ambiental!
João AnsolinEstudante de história na UFRGS e militante da Faísca Revolucionária
O constante temor de que suas moradias e retomadas sejam destruídas não cessa nem mesmo durante a maior tragédia da história do Rio Grande do Sul. Logo no início das enchentes, no dia 4 de Maio, o movimento indígena do RS denunciou que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), ligado ao Ministério dos Transportes do governo Lula-Alckmin,destruiu moradias, a escola indígena e outras estruturas sem o consentimento da comunidade, sem hesitar em atender aos interesses dos capitalistas mesmo em um momento de extrema fragilidade em todo o estado.
Essa situação se mantém, como na comunidade Guarani Araçaty, em Capivari do Sul. Nessa comunidade, os moradores tiveram suas casas alagadas, mas se recusaram a ir para os abrigos por medo de que quando voltassem, seus territórios que não são demarcados tivessem sido ocupados pelo agronegócio, tendo que se abrigarem de forma ultra precária em um dos poucos prédios da região que não foram alagados.
Assim como a comunidade Guarani Araçaty, a comunidade Pindo Poty da Zona Sul de Porto Alegre, e diversas outras, sofrem com a mesma situação. Esperam há anos o desenvolvimento dos trâmites burocráticos da Funai, vinculada desde 2023 ao Ministério dos Povos Indígenas, da ministra Sônia Guajajara (PSOL), que não resolve os processos de demarcação de terras porque o governo de frente ampla tem fortes laços com setores do agronegócio e de todos aqueles que lucram com o roubo das terras.
O governador Eduardo Leite fez demagogia quando foi ao programa Roda Viva dizendo que as comunidades indígenas são olhadas por seu governo“com o mesmo carinho de todo cidadão”. A dúvida que fica é se ele está se referindo ao latifundiário do agronegócio que se beneficiou aos montes com a flexibilização das leis ambientais que ele mesmo aprovou nos últimos anos e que contribui com a crise climática e o avanço violento sobre as terras dos povos indígenas, ou ao trabalhador jogado à própria sorte para lidar com essa tragédia climática e com as políticas neoliberais desse governador, um dos principais culpados por toda essa crise.
A demarcação de terras dos povos originários é uma questão histórica do Brasil, e que nesse momento de tragédia climática ganha ainda mais importância. Mas não podemos esperar que o governo Lula-Alckmin leve à frente essa demanda, já que é um dos melhores amigos do agronegócio como comprovado com os mais de R$350 bilhões aprovados no maior Plano Safra da história, enchendo os bolsos dos maiores interessados nos territórios indígenas e que mais destroem o meio ambiente no Brasil.
Além disso, foi durante esse governo, em 2023, a aprovação do Marco Temporal. Com 34 dos 43 votos a favor da proposta sendo de partidos base do governo de frente ampla. Esse ataque aos povos indígenas e às terras que ainda não foram destruídas pelos capitalistas é um retrocesso gigantesco na luta por demarcação, o que prova que a aliança com a direita e os que nos atacam não fortalece os povos originários e a classe trabalhadora, mas sim aqueles que lucram com a destruição de nossas vidas, como a extrema-direita.
É preciso travar uma luta independente do governo Lula-Alckmin, no caminho contrário do que faz o PSOL, por exemplo, que se mostra totalmente adaptado ao regime que nos ataca, integrando essa frente-ampla em aliança com a extrema-direita numa completa passividade na luta pela revogação, não apenas do Marco Temporal, como também de todas as reformas golpistas e os ataques neoliberais que seguem nesse governo.
Somente a força dos povos originários, do campo e da classe trabalhadora é que pode impor um verdadeiro avanço em todas essas lutas. A revogação do Marco Temporal, a demarcação dos territórios indígenas e a construção de um programa para que possamos reverter a crise climática em harmonia com a natureza, só pode ser construída pelas mãos desses setores, sem ilusões nos que estão ao lado dos nossos inimigos nessas batalhas.
Foto: Fernanda Canofre/Agência Pública
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